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Martin Ricardo Schulz

Cardume de gente


 

Quando comecei a minha carreira profissional, o Gerente Financeiro da companhia certa vez me disse: “De nada adiantam as contas perfeitas. O que precisa ser visto é se as pessoas que fazem as contas estão satisfeitas”. Hoje ele é presidente da mesma companhia, que está avaliada como uma das melhores empresas gaúchas para se trabalhar. Realmente as empresas são feitas de pessoas e ter a capacidade de enxergar esta realidade é considerada hoje, pelo meio empresarial, como um atributo gerencial. Este tema ganhou notoriedade nos últimos anos de tal forma, que muitos empresários passaram a se preocupar com o mesmo por duas principais óticas: se por um lado as pessoas podem ser um atributo das empresas, por outro podem ser a sua principal limitação.

Este assunto não cala. Uma empresa que tem as suas atividades de Recursos Humanos bem-resolvidas costuma ter menos problemas trabalhistas e mais capacidade de competição. Vou me deter um pouco em clarificar o que é uma atividade de RH bem resolvida: existe naquela empresa que considera que, mais do que qualquer outro recurso, as pessoas que nela trabalham são um patrimônio essencial, pois tudo iniciam, desenvolvem e concluem. Neste caso, são responsáveis diretos pelo desempenho da empresa. Talvez devêssemos chamar este departamento de Produtividade, pois de nada adianta possuir excelentes sistemas de planejamento e controle, estruturas adequadas ou equipamentos de alta tecnologia, se o elemento que “faz” as coisas acontecerem de forma correta não estiver envolvido. Leia-se como “forma correta”, de forma produtiva, com qualidade e da maneira mais econômica possível. Esta empresa seria um luxo.

Todavia, Saint-Exupery em Terra dos Homens já afirmava: “A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; só há um luxo verdadeiro, o das relações humanas”. Está bem, uma atividade de RH completa precisa mais: que tal um plano formal de Recursos Humanos, que possa ser compreendido por todos, que contenha as políticas (objetivos permanentes) da empresa expressas de forma transparente? Que tal somarmos uma administração de rotinas trabalhistas organizada e um projeto exeqüível de aprendizado e fortalecimento da cultura interna? Sim, uma organização de RH não é apenas um Departamento Pessoal com alguns benefícios. É preciso se preocupar ainda com as relações sindicais, com as análises de absenteísmo e rotatividade de pessoal, com as necessidades de treinamento e desenvolvimento, além de outros indicadores. Contudo, a principal função da área de Recursos Humanos é estabelecer, praticar e fomentar a tão famosa Comunicação Interna. E este indicador costuma estereotipar o que acontece dentro da empresa e, por que não dizer, estabelecer o “clima” organizacional. Vejo muitas empresas preocupadas em mensurar e avaliar o ambiente interno, mas sem se preocuparem com a comunicação sequer do que está acontecendo. Na maioria destes casos, as empresas medem o clima e após as conclusões, não comunicam os resultados de forma franca aos colaboradores, interrompendo o processo de comunicação. Interessante ver que nestas empresas e comunicação costuma ser informal, meio silenciosa, o que retro-alimenta o desgaste da cultura interna.

Mas não é sempre assim: existem empresas em que o plano de cargos e salários é apenas mais um processo de gestão e não um sinônimo de salvação da empresa. E nestas empresas, pela importância e respaldo que dão ao setor de Desenvolvimento de Pessoas, o clima costuma ser de colaboração e o processo de mobilização de todos diante de um problema é muito mais rápido. Nunca é demais dizer que estas empresas são mais competitivas e provavelmente figuram entre as melhores para se trabalhar. Afinal, estamos lidando com ativos intangíveis, chamados Pessoas, que se motivam pela perspectiva de estarem participando e não por treinamentos e mais treinamentos.

Nós, pessoas, nos comportamos no meio competitivo como um cardume de peixes; quando um se movimenta de uma forma diferente, todos se movimentam da mesma forma, para a mesma direção, e estes movimentos podem determinar que a empresa seja inovadora ou apática. A cultura de uma empresa é construída ao longo de muitos anos e com esforço proporcional e, por isso, deve ser respeitada e fomentada.Vamos pedir ajuda de profissionais que dominem o assunto e que possam, realmente, fazer o que resolve na administração de Recursos Humanos das nossas empresas. Se este ponto estiver em boa marcha, teremos tempo e calma necessários para conduzir as outras tantas atividades da empresa que também precisam de cuidado e que também tragam bons resultados ao negócio.

 


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