Muito temos falado, escrito e compartilhado sobre inovação. São muitas as receitas de sucesso propostas a partir do contexto empresarial que se apresenta cheio de inseguranças e, porquanto, de tímidos investimentos. Anomia é um estado de falta de objetivos e de regras, além da perda de identidade, provocado pelas intensas transformações no mundo social moderno. Uma das muitas razões para esse processo de anomia é que a economia do País não cresce e se atrapalha nos próprios passos. Uma empresa se sustenta pela integração social e operacional, de forma que essas transformações alteram ou agravam o estado de anomia empresarial.
Se considerarmos a imensa contribuição das empresas advindas de empreendedores ao mercado de trabalho, veremos que as práticas atuais não condizem com aquelas propostas pelos conhecedores e que, diante desse quadro, passam a ter suas receitas – talvez já obsoletas - questionadas. O contexto empresarial brasileiro está matando a sua própria fonte de geração de economia, e nos defrontamos com uma das consequências desse processo de anomia quando conversamos com empresários sobre o futuro. Sabemos que o futuro ainda não existe, mas vemos cada vez mais jovens sem a intenção de trabalhar ou empreender e cada vez mais empreendedores dispostos a vender suas empresas. Então, proponho algumas questões para refletirmos: Até quando iremos suportar esse processo com nosso próprio caixa? Vamos todos nos tornar especialistas em M&A (fusão e aquisições) para tirar proveito da venda dos empreendimentos? Vale a pena vender barato um negócio em dificuldades? O que faremos diante da negativa dos filhos numa possibilidade de sucessão?
Embora delicadas, são questões que se apresentam de forma constrangedora ao meio empresarial, que doente e cansado, não consegue se mobilizar em ecossistemas de negócios porque seus gestores sequer estão preparados para compreender e participar desse novo contexto. Então, nossa dificuldade de inclusão, inibe a inovação. Inovação incremental só acontece em empresas e ambientes favoráveis ao processo e que possuam esse propósito. Nós empreendedores, deveríamos coabitar com jovens que possuem educação e experiências atualizadas, aumentando nossa capacidade de utilizar o novo contexto de relações negociais e tecnológicas para aportar insights ao nosso negócio em particular, fornecendo recursos para a inovação e servindo como elo de segurança no processo.
Em resposta ao mercado, existem empresas que estão preparando as suas lideranças com o aporte imprescindível de conhecimento da academia, procurando ambientar esses profissionais através de processos e aprendizados de inclusão tecnológica e digital para gerar resultados. Todavia, a despeito dessas boas iniciativas, os processos internos de mudança passaram a ser permanentes, tornando o ambiente instável e pouco receptivo a inovação. Por outro lado, devemos considerar que o corporativismo brasileiro permeia muitas empresas, em que prevalece a dinâmica do good enough (suficiente) e não a do melhor. Então, estamos gastando energias fundamentais em querer mudar as coisas que os gestores não querem mudar, porque não conseguem mais acompanhar e participar, o que pode trazer modelos decisórios refratários à inovação e tóxicos para as relações internas.
Todavia, acredito que existem saídas produtivas, mas que requerem esforço e foco. Não basta apenas nos preocuparmos com os processos produtivos e de lideranças. Precisamos ir além de escutar modernidades verbais e realmente avaliar a vivência e capacidade de quem nos aconselha. Também devemos nos deter na gestão de conhecimento que a nossa empresa compartilha e aumenta, precisamos rever nossas políticas de relações interpessoais e de limites funcionais, ou ainda podemos ser humildes a ponto de assumir que não estamos preparados para tudo o que há lá fora e buscar aprender sobre isso.
Esses fatores poderão contribuir para que haja uma transformação digital e relacional nas nossas empresas. Devemos, contudo, considerar que o mercado vai melhorar, oportunidade em que devemos estar preparados para dar respostas e fazer as coisas de forma mais simples, sob uma nova ótica. A simplificação de processos e controles costuma funcionar como um importante driver de inovação e pode auxiliar na contextualização de uma nova cultura empresarial, que irá medicar as pessoas que integram a empresa em relação aos processos internos, eliminando a anomia e proporcionando um ambiente favorável à inovação.