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Martin Ricardo Schulz

O bônus da Mentoria Executiva


A importância e as vantagens dos processos de mentoring dentro das empresas e os benefícios dessa prática para a gestão de pessoas é um ativo intangível que, se colocado em prática, em pouco tempo pode aprimorar o modelo decisório corporativo.

Em mais de vinte anos de carreira e depois de ter exercido duas vezes a posição de CEO, muitas vezes me deparei com pessoas responsabilizando a área de RH pelos problemas de comportamentos, às vezes políticos por parte das lideranças, às vezes inadequados por parte de alguns. Mas quando olhamos de fora, devemos considerar que, para que o RH fizesse o importante papel de catalizador de atitudes, as lideranças deveriam ter a capacidade intrínseca de também exercer a gestão de recursos humanos diante da sua equipe.

Entretanto, a realidade é bastante diferente e esse é um enorme desafio interno nas corporações por uma razão bem simples: os líderes são cobrados por desempenho e resultados, e essa perspectiva distorce a necessidade de gestão de pessoas. Então, esses cargos geralmente permanecem despreparados para essa tarefa. Nas minhas palestras, costumo reforçar que uma empresa é “feita” de pessoas. Todavia, como os líderes devem entregar resultados, sobrecarregam com as demandas relacionais o setor de RH, que por sua vez vai ter que auxiliar na solução de problemas operacionais, fazendo com que os cargos de liderança se afastem do âmbito estratégico. O mesmo se estende a área de RH.

Contudo, essa realidade torna os processos mais burocráticos, uma vez que os problemas acabam sendo resolvidos pela sua complexidade, ao invés de serem solucionados pela simplicidade. Ser gestor de uma empresa é uma tarefa que exige muita responsabilidade, espírito de liderança e capacidade de inovação, e se tornar um líder ou gestor de alta performance é uma conquista, não um bônus. Também não acontece num curto prazo, pois é um processo que demanda muito estudo, dedicação e vontade de crescer por parte do profissional, que precisará de atributos adicionais como flexibilidade e atitude de autoavaliação sistemática.

O contexto corporativo conta com diversas ferramentas capazes de promover este desenvolvimento. Uma delas, é o Coaching, que fragmentado em muitos conceitos adjacentes nominados a partir das limitações pessoais e comportamentais, tem o seu escopo muitas vezes tratado como sinônimo de Mentoria. E embora as duas metodologias tenham a finalidade de proporcionar auxílio para que as pessoas alcancem seus objetivos, são processos muito distintos e que merecem uma contextualização mais apurada para a aplicação nas empresas: O coaching é uma formação que não exige que o coach tenha experiência na área de atuação do cliente, o que dificulta a empatia do coachee fora daquele contexto profissional específico. Além disso, essa técnica entende que o coachee já possui as respostas para aquilo que precisa ser mudado, mas não possui as técnicas e ferramentas necessárias para chegar até elas. Então é oportuno considerar que o coaching promove um bom processo de autoconhecimento e reflexão, mas em muitos casos, contudo, sem guiar novas atitudes.

Exercendo atividade de consultoria no exterior, vivenciei junto a importantes corporações que a técnica mais assertiva é o Mentoring – ou Mentoria, um processo que visa melhorar o desempenho das pessoas nas dimensões da prática e da técnica, em que uma pessoa experiente (o mentor, tutor) orienta outra menos experiente (o tutorado), gerando logicamente mais integração e resultados à empresa. Esta metodologia é baseada na busca do aprimoramento de estratégias e desenvolvimento das habilidades profissionais com ajuda de um mentor que tenha experiência anterior no mercado, advinda de cases de sucesso e também de fracassos. Baseada, portanto, em vivências anteriores do próprio mentor numa perspectiva experiencial.

Além disso, com base em seu conhecimento na área, o mentor orienta o tutorado (ou mentee) sob a ótica da aplicabilidade e de solução de problemas já experimentados, reforçando o viés técnico, fazendo críticas construtivas, provocando insights, trazendo exemplos do meio corporativo e preparando o líder para que desenvolva suas competências intrínsecas e essenciais e para que esteja o mais preparado possível para enfrentar seus desafios profissionais naquela realidade empresarial.

O foco da mentoria é promover direções ao tutorado, além de ajudá-lo a alcançar seus objetivos e aperfeiçoar a sua carreira. O papel do mentor neste contexto é estimular o desenvolvimento pessoal e profissional do tutorado, refletindo conjuntamente sobre suas limitações e atributos, contribuindo assim para o seu crescimento. Podemos, então, compreender que esse crescimento é uma consequência do equilíbrio dialógico entre duas personas do tutorado, a individual e a profissional, pois os dois coabitam no mesmo ser. Influenciam, portanto, e mutuamente, os comportamentos e atitudes profissionais. E essa costuma ser a principal deficiência de programas de autoconhecimento, que sob o viés comportamental e de sentimentos, provoca boas reflexões nos indivíduos, sem, contudo, mostrar caminhos práticos e, assim, sem proporcionar a experimentação.

O exercício da posição de mentee fora do Brasil, apurou meu entusiasmo e metodologia na prática como mentor de líderes e executivos, dentro e fora das empresas. Hoje considero a mentoria uma solução mais completa que aporta maior residual para o profissional e, dessa forma, para a empresa que proporciona esse crescimento. A mentoria é um investimento empresarial com real potencial de monetização, pois apresenta vantagens em relação a outros programas, e das quais eu gostaria de destacar apenas três: (1) a construção conjunta de uma proposta de valor profissional do tutorado; (2) a mentoria fornece orientação com base em vivências boas e ruins anteriores; e (3) desenvolve o perfil do tutorado a partir das suas próprias capacidades, mas de olho nas suas limitações, ou seja, a mentoria potencializa as capacidades de entrega do profissional.

A empresa que promove essa solução também obtém vantagens com a mentoria: essa metodologia gera percepções e soluções a partir do contexto real do negócio, pois é baseada nessas experiências locais, proporcionando a aplicabilidade imediata de novas técnicas e atitudes. Todavia, o equilíbrio emocional e profissional do tutorado, proporciona segurança e cordialidade nas relações internas, desenvolvidas a partir do contexto particular, o que beneficia a empresa e o profissional. Além disso, é oportuno citar aquela que considero a maior vantagem do processo: a transformação do conhecimento gerado e compartilhado internamente, que ajusta comportamentos e alinha objetivos das equipes em direção aos propósitos empresariais.

O desenvolvimento de perfis profissionais no mundo corporativo pode provocar atitudes inovadoras e novas perspectivas de motivação. As empresas podem, assim, melhorar suas relações internas e com as partes interessadas no seu sucesso.

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